quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Telemar fora do radar, mas pode voltar a ser blue chip

Telemar já foi vedete da Bovespa, mas saiu do radar e perdeu valor de mercado. Será hora de apostar na recuperação?

Por Juliana Schincariol


O que faz uma blue chip deixar de ser uma blue chip? De tempos em tempos, algumas das ações mais negociadas da bolsa perdem o status de queridinhas do mercado e entram na lista negra dos investidores.

Um caso recente é o da Telemar, atual Grupo Oi. Cinco anos atrás, a companhia era a sensação dos pregões. Hoje, a segunda maior empresa de telecomunicações do País, com fatia de 50% da telefonia fixa e 20% da móvel, está entre as que mais sofrem na Bovespa.

Quatro das sete ações do grupo lideram o ranking do pior desempenho do mercado desde o final de 2008: Brasil Telecom PN (-9,1%), Telemar Norte Leste PNA (-6,5%), Telemar PN (+2,3%) e Telemar ON (+6,4%).

No período, até a quarta-feira 13, o Ibovespa subiu 90,9% e a cotação da ação preferencial da Vivo, maior concorrente da Oi, aumentou 90,1%, segundo a Economática. Em 2010, a “supertele brasileira” só fica atrás da desvalorização da B2W (Submarino), da Petrobras e da Fibria. Os investidores continuam dizendo tchau para a Oi.

Quando a manada corre na mesma direção e joga um papel importante no fundo do poço, o investidor deve se perguntar se vale a pena aproveitar a barganha e montar uma posição. Primeiro, é preciso entender os motivos da derrocada.

No caso da Oi, há várias explicações. Governança corporativa ruim, tratamento desigual dos acionistas minoritários, pendências judiciais relevantes envolvendo clientes no Rio Grande do Sul e dúvidas quanto ao futuro da companhia são algumas das questões mencionadas pelos especialistas ouvidos pela DINHEIRO.

Se mergulhar em cada uma dessas questões é uma tarefa difícil para profissionais, imagine para os investidores menos sofisticados, que sofrem para entender a representação da Oi na Bolsa.

Apenas a Telemar possui cinco classes de papéis em circulação. A complexidade societária desanima qualquer um e deprecia o grupo como um todo. “São muitos veículos abertos para uma só empresa e a companhia paga um preço por isso.

Há anos que a ação tem um desconto muito grande em relação a seus pares”, afirma Eduardo Roche, analista da Modal Asset Management. Enquanto a Vivo tem valor de mercado de R$ 28,6 bilhões, a Oi não passa de R$ 10,5 bilhões.

Uma reestruturação societária poderia minimizar essa situação. Mas o grupo controlador – Andrade Gutierrez, La Fonte e Fundação Atlântica – não consegue fazê-la. Em quatro anos, foram três tentativas frustradas (veja gráfico).

Em todas elas, as propostas dos controladores nunca foram consideradas vantajosas ou justas com os acionistas minoritários, que as rejeitaram. No momento, todas as atenções se voltam para a entrada da Portugal Telecom (PT) no controle da Oi.

Sobram dúvidas em relação à forma como a companhia portuguesa vai participar do controle. A PT fará um aporte de, no máximo, R$ 8,44 bilhões. Quando o negócio foi anunciado, em 28 de julho, as ações preferenciais da Tele Norte Leste (as mais negociadas do grupo) recuaram 11,2%, pois a forma como a operação foi feita não garantiu o mesmo preço por ação para os minoritários (tag along).

“Parte do mercado se decepcionou porque a PT comprou uma participação da La Fonte Participações. Neste caso, não há pagamento de tag along”, diz Daniel Salomão, sócio da Neo Investimentos.

Outro foco de dúvidas é a capitalização da Oi. A Telemar Participações e a Tele Norte Leste irão receber R$ 12 bilhões cada, por meio da emissão de ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (com direito à preferência na distribuição dos dividendos).

Esse dinheiro será usado para melhorar o perfil financeiro e dar fôlego para novos investimentos, o que é bom para a empresa. Porém, aqui a presença dos portugueses também é uma incógnita.

“O acordo não deixou claro como será a participação da PT nesta capitalização”, diz Salomão. Também não há data marcada para a operação, que precisa ser aprovada pela Anatel.

A expectativa é de que aconteça no primeiro trimestre de 2011. Depois, espera-se que os próximos passos da Oi fiquem mais claros. “Com a PT entre os controladores, a companhia pode ficar mais alinhada com os minoritários e isso pode fazer com que a ação volte a andar”, diz Salomão.

Quem adotar uma visão otimista pode encontrar uma oportunidade de ganho. Quando um papel está no fundo do poço, qualquer notícia positiva pode se transformar em lucro. Na quarta-feira 13, a Telemar Norte Leste PN fechou a R$ 24,90 e a ON, a R$ 32,70.

Para Rosângela Ribeiro, analista da corretora SLW, as ações da companhia devem buscar pelo menos os valores propostos para a subscrição na capitalização, ou seja, R$ 28,26 por ação preferencial e R$ 38,54, por ordinária. “Há oportunidades no curto prazo”, diz.

As ações podem zerar as perdas (superiores a 20% em 2010) até o final do ano, afirma. Há riscos, mas o potencial de recuperação também existe. “A companhia tem fundamentos, é boa pagadora de dividendos e pode melhorar sua situação financeira com a entrada do novo sócio”, explica Rosângela.

O fato é que os portugueses, enquanto foram sócios minoritários da Vivo, participaram de uma gestão bem-sucedida e reconhecida pelo mercado. Por que na Oi isso seria diferente?

Fonte: Istoé Dinheiro
http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/37710_TELEMAR+FORA+DO+RADAR+MAS+PODE+VOLTAR+A+SER+BLUE+CHIP

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