Investimento em imóveis é para os fracos

Investimento para o brasileiro sempre foi construir 2 ou 3 casinhas ou comprar uns 2 apartamentinhos pra dali tirar um aluguelzinho na velhice. Reflexo da explosão demográfica que essa geração assistiu: nos últimos cinqüenta anos a população brasileira cresceu de 50 para 180 milhões de habitantes, gerando enorme valorização dos preços de imóveis e terrenos para a construção. Por isso, os imóveis eram sempre a primeira opção de investimentos.
Só que nos próximos cinqüenta anos, segundo os entendidos, nossa população não vai mais crescer 300%, mas somente 30%. E ainda bem. Isso significa que a necessidade de novos imóveis ficará em menos que 0,5% ao ano. Será que os imóveis se valorizarão como no passado?

5 anos atrás vendi um apartamento de 2 quartos que me rendia um aluguel e coloquei os 50.000 reais em ações. Paguei tabela cheia Bovespa, 0,5% por transação, o que achei uma bagatela. Em imóveis o valor da corretagem chega a 5%, mais Impostos, cartórios, advogados etc, o que pode elevar a brincadeira toda para 10%. Hoje tem corretagem de 5,00 na Bolsa.

Outro aspecto: pra comprar o apartamento eu gastei tempo e sola de sapato. Visitei vários apartamentos. Tive que tratar com diversos corretores, que mesmo sabendo claramente o que eu procurava, insistiam em me levar nos imóveis que eles tinham disponíveis, pouco importando o que eu já havia definido como objetivo. Pra vender foi outra luta. Você coloca um preço baseado no mercado, mas dezenas de propostas fora de preço fazem você perder tempo e humor. Nas ações não. Você compra e/ou vende suas ações sem sequer ver a cara da contra-parte. Não tem que ir no banco, que assinar recibo, nem nada. Em D+4 pode ir lá no banco e sacar tudo direitinho. Se você bota a ordem de venda em X, se o camarada quiser sua ação ou vai pagar o X ou vai esperar outro vendedor entregar na boca do tomador.

Tem também a questão do mal inquilino: acha que paga muito, que o aluguel é jogar dinheiro fora e que você, dono do apartamento, é inimigo dele. Sem contar que o apartamento ficava de 2 a 4 meses vazio entre um inquilino e outro, normalmente despejado por atrasos e falta de pagamento.

"O imóvel ninguém rouba", era isso que predominava na cabeça do brasileiro, não só pensando no roubo real de alguém tomar seu dinheiro na mão grande. Mas também fruto de uma realidade onde a inflação, sem encostar a mão no seu bolso, roubava de você o poder de compra diariamente. Na época, a Bolsa era associada a jogatina. Pouca informação e práticas pouco ortodoxas levaram pessoas a grandes prejuízos em Bolsa naqueles tempos.

Fato também que do rendimento anual do aluguel você precisa descontar o custo do corretor do imóvel, do cartório, do administrador imobiliário, do corretor do inquilino, do pintor, do advogado independente, dos atrasos, da inadimplência, dos aborrecimentos, da depreciação do imóvel, da manutenção obrigatória, do aumento do IPTU. Quem fizer os cálculos vai descobrir que no fim sobra bem menos do que se imaginava. Em bolsa ainda tem, fora a valorização dos ativos, o pagamento de dividendos, que em alguns casos atingem até 20%.

É por isso que eu digo: Bolsa é só alegria.

Agora, não adianta o freguês querer entrar na Bolsa no topo, se assustar na primeira queda e querer vender no fundo e depois sair por aí falando mal do Chapuleta.