Quem tem medo da queda?

Bolsa em queda. Começa o pânico, ninguém sabe o que fazer, é um misto de tristeza e nervosismo, frustração e raiva!
- É manipulação!
- Como podem vender Petrobras a este preço? São uns burros!
- Vou embora da Bolsa e nunca mais volto, só tem ladrão!
- Assim não dá! Assim não pode!
Toda essa frustração vem de algumas fantasias. Uma delas é que a Bolsa é uma instituição criada para colocar dinheiro fácil no bolso de amadores, e a forma de conseguir este dinheiro fácil é adivinhando o futuro. Nada poderia estar mais errado. Os amadores, em sua maioria, deixam o seu dinheiro na Bolsa porque acham que a forma correta de operar é prevendo o futuro, dom que o ser humano não tem. O que importa sempre não é o que a Bolsa vai fazer, mas o que você vai fazer de acordo com os movimentos possíveis dela. Agora, se você não considera a possibilidade de queda em seu planejamento, não saberá como agir se a Bolsa cair.

A ideia de que basta colocar o dinheiro na Bolsa, esperar subir e passar no caixa é comumente vendida. De fato, isso pode até acontecer algumas vezes, mas não sempre e tão pouco em linha reta. Se não houver um planejamento que inclua o que fazer no caso de uma queda, os prejuízos serão grandes quando ela acontecer. E esse planejamento não pode ser o que a maioria usa: caiu, desabou, entra em pânico e vende tudo no fundo. Para isso não precisa planejar. Muitos agem assim por não aceitarem a realidade de que a Bolsa cai e não se prepararem adequadamente para essa situação.

Bolsa é renda variável e tem esse nome exatamente porque varia, ou seja, não se trata de renda fixa. Primeiro, compreenda e aceite as realidades da Bolsa de Valores. Ela é totalmente imprevisível e incerta, sobe e desce. Agora, você acha que, entendendo esse conceito, está preparado para um ambiente duvidoso? Se não está, deve se preparar.

Antes de tudo se pergunte o que você está fazendo na Bolsa. Qual é o seu objetivo? Se for o que eu acho mais razoável para o pequeno investidor: montar uma carteira de ações, como parte de sua poupança - o plano é acumular o maior número possível de ativos de boas empresas, blue chips. Quanto mais, melhor. Comprando todo mês parte de sua poupança de ações, você pode obter uma carteira de cinco a sete empresas diferentes e, ainda, reaplicar os dividendos, que irão crescer progressivamente à medida que seu portifólio aumentar. Seu capital ficará encorpado, você poderá fazer vendas cobertas e, se seguir o script, contribuirá de forma sólida com sua própria aposentadoria. Lembre-se de que as ações só devem ser vendidas se ocorrer algum problema com a companhia, se você não desejar ser mais sócio dela.

E aí eu lhe pergunto: Que diferença faz o preço da ação hoje, se você não vai vender mesmo? Na verdade, o holder (poupador) nem deveria olhar os preços e perder seu tempo acompanhando as cotações. Uma vez por mês ele faz suas compras e pronto. Reaplica os dividendos quando recebe e, se faz venda coberta, cuida de suas vendas de opções. Desde que as empresas que ele possui ações permaneçam sólidas, não faz a menor diferença se elas custam hoje R$ 20, R$ 30 ou R$ 40.

Mas tem uma coisa muito importante. Quando uma ação de empresa boa cai, é uma grande oportunidade de comprá-la. Vamos supor que você compre R$ 500 de ações todo mês. Se a ação estiver valendo R$ 40, você compra 12 ações, se ela estiver R$ 30, você adquire 16 ações e se for R$ 20, são mais 25 ações em sua carteira. O dobro! Isso sem contar que, com os dividendos, você também compra mais ações, e a vantagem é dupla na venda coberta: você ganha as vendas mais facilmente, ao mesmo tempo em que compra mais ações com o lucro das vendas.

Fui olhar o preço sobre o lucro (P/L) da Petrobras e vi que caiu abaixo de 10. No auge da crise, Petrobras e Vale chegaram a ser vendidas a valor patrimonial. Era a oportunidade do século e todo mundo estava em pânico, com medo de sei lá o que. Talvez pensassem que o mundo ia acabar ou algo assim. Neste momento, muitos vendiam desesperados por falta de planejamento e colocavam o dinheiro na renda fixa, ou, pior, compravam dólar a R$ 2,50. Tudo ao contrário!

Já se o seu objetivo na Bolsa são os trades, há duas alternativas. Primeira: se os trades são só na compra, quando montados, eles precisam ter determinado alvo de lucro e stop. O stop deve ser racional. Chegou ao valor dele? Aciona e sai da operação. Nada com que se emocionar. É necessário que se determinem critérios para entrada em operações. Eles foram atingidos? Compre, estabeleça alvo de lucro e stop, e saia logo que o primeiro acontecer. Após um ano, reveja seu método e estratégias, e se o rendimento não estiver bom, pense em aderir ao buy and hold (compra e segura). Tente mais um ano, se o rendimento continuar ruim, provavelmente você não tem o talento necessário para vencer como trader. Nada demais, a maioria dos seres humanos não possui este dom. Segunda: se os trades são na compra e na venda, a queda é uma excelente oportunidade de montar trades na venda, que esperam ganhar se o mercado cair.

Portanto, a queda só assusta quem está na Bolsa sem planejamento adequado, àqueles que acreditaram que a Bolsa só sobe e que é fácil ficar rico com ela.  A queda é uma oportunidade para os holders e traders, enfim, para qualquer um que saiba o que está fazendo na Bolsa. E não poderia ser diferente. Se a Bolsa sobe e cai, o ideal é que seu método consiga se beneficiar da alta e da queda. Mas, para isso, você não pode ser dominado pela fantasia do “ganha-ganha” na Bolsa.

Sendo assim, a partir de agora, planeje meticulosamente suas estratégias e pare de se preocupar com quedas, porque elas não são um problema, mas sim uma oportunidade.

Por Maurício Hissa