Sessão PERGUNTAS & RESPOSTAS

" Prezado Hermenegildo Chapuleta
Gostaria da sua opinião. Sempre fui um médico psiquiatra conceituado e dinheiro pra mim nunca foi problema. Sempre levei uma vida muito confortável. Com o que sobrava do meu salário eu fazia aportes mensais na Bolsa de Valores, comprando ações de boas empresas. Essa estratégia sempre deu certo e meu patrimônio cresceu enormemente nesse período, mesmo sem eu dedicar grande atenção ao assunto. Até que no ano passado, com essa tal crise do sub-prime, a televisão começou a noticiar o terror e eu fui acompanhar mais de perto a minha carteira de investimentos. Qual não foi a minha surpresa quando percebi que em dado momento meus papéis estavam custando menos da metade do que custavam.
Foi aí que o meu corretor falou numa tal de análise técnica, num gerenciamento mais dinâmico para maximizar os ganhos e se proteger de perdas. Que se eu tivesse vendido na perda do suporte nos 65 mil pontos do Ibov, poderia entrar comprando o dobro da carteira nos 30 mil pontos. Aquilo me pareceu muito lógico e bem técnico.
Ele então me matriculou num curso de Análise Técnica da corretora (paguei barato: 700 reais por 2 dias de aula), me indicou uns 3 livros e outras tantas apostilas e me ensinou as maravilhas do home broker. Achei aquilo tudo o máximo.

Empolgado com aquilo, parei de atender na minha clínica e comecei a operar meu HB. Lia aqueles livros todos, frequentava milhões de fóruns e blogs, via tantas análises... Comecei a fazer day-trade olhando os gráficos intraday de 15 min, com as bandas de bollinger, estocástico, IFR, MACD, médias móveis: um caos na tela. Até ganhei algum dinheiro. Pouco, mas ganhei.
Estava me sentindo muito bem com aquele frenesi todo.
Até que na perda do suporte dos 30 mil pontos eu vendi minha carteira toda.
Demorou pra perceber que eu tinha feito papel de otário. Passados uns 2 meses e já refeito do susto, foi que constatei que entramos numa tal tendencia de alta, mas com muita volatilidade. Meu corretor disse que pequenas compras eram válidas, desde que com stops acionados e realizasse lucro rápido. Foi o que fiz e com muito sucesso. Veja você mesmo, Hermenegildo.

Comprei GAFISA quando passou dos 10 e vendi com exorbitantes 30% de lucro, nos 13 reais. Hoje tá 23.
Comprei PETR4 (as mesmas que vendi nos 16) quando passou dos 22 e vendi nos 26,50. Lucro de 20% bom é no bolso. Hoje tá 32.
Comprei MMXM3 quando passou dos 3,50 e vendi nos 4,70. Lucrasso de 40%. Hoje o papel tá 8,60.
GGBR4 eu comprei no rompimento do 12, vendi a 15, embolsando um bom lucro de mais de 20%. Hoje tá 22.

E tantos outros papéis que eu poderia enumerar aqui. Mas não vou faze-lo porque já está quase na hora do meu remedinho.
Estava aqui separando a documentação para o imposto de renda e a comparação com outros anos é inevitável. Quando eu mudei minha estratégia, as coisas mudaram. As notas de corretagem cresceram. O imposto a pagar aumentou. O gasto com corretagem e emolumentos explodiu. Mas meu patrimônio, seja ele em capital ou número de ações, diminuiu.

Minha cabeça deu um nó, Hermenegildo. Meu padrão de vida já não é mais o mesmo. Minha profissão foi prejudicada. Minhas relações pessoais idem. Até meus hábitos alimentares foram alterados: passei a comer carne humana nas horas vagas, pelo que agora vivo amarrado e com essa coisa na cara. O meu médico disse que é pra evitar que eu morda alguém. Aí eu pedi para me desamarrar, que não tem como eu morder com a mão. Estou desconfiado que estou amarrado pra não mexer mais com HB. E sabe que estou me sentindo melhor...
E agora, Hermenegildo?

PS: Estou líquido e me sentindo um otário. É isso que eu sou, Hermenegildo? Me ajude!!!

Assinado: Hannibal Lecter

Hannibal Lecter
Primeiramente, não acho você um otário. No máximo, um sujeito com falta de sorte. Em segundo lugar, você precisa dar um jeito de se soltar dessas cordas urgentemente e voltar a operar. Corretagem é muito importante na vida de um corretor. Em terceiro lugar, você me pergunta: E agora? Eu respondo: AGORA VAI!!!

Se cuida
Abçs
Hermenegildo Chapuleta